Reflexões a partir do filme PARASITA de Bong Joon Ho – Coréia do Sul.
Parasitas são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro (Wikipédia).
Título sugestivo para um filme que apresenta duas famílias, compostas cada uma delas por: pai, mãe e um casal de filhos; que reproduzem costumes de nossa época como a comunicação por meios digitais e a preocupação com os estudos. A diferença posta é que uma vive na cidade alta, com privilégios, conforto e abundância e a outra na cidade baixa, degradada, suja e em desamparo. O encontro desses dois mundos se dá pela prestação de serviços e segue revelando conflitos e fragilidades que vão além das aparências expostas pela posição social.
Roteiro bem construído, que vai dando sentido a detalhes anteriormente expostos pelos personagens, evidenciando a impossibilidade de harmonia e os verdadeiros sentidos da ingenuidade, da ilusão e da agressividade. Expõe situações que possibilitam questionar a lógica conceitual ofertada aos parasitas e seus hospedeiros.
Uma trama que poderia ser retratada em muitos lugares, aproximando intensamente culturas e organizações sociais.
Os temas apresentados nesta bela obra cinematográfica nos permitem revisitar os pontos destacados por Freud em seu texto “O mal-estar na cultura” (1929-1930), quando nomeia as raízes do sofrimento humano. Freud afirma que as “fúrias do mundo”, entendidas como fenômenos ou desastres ambientais, são uma das raízes desse sofrimento, mas aponta o corpo, constitutivamente vulnerável e, também, os vínculos com os outros seres humanos como fontes deste sofrimento.
No filme, as duas faces da cidade e seus elementos contrastantes expõem as origens desses sofrimentos e seus limites, chegando aos aspectos mais primitivos dos sentidos humanos: o odor, a fome, a dor, a solidão.
Constatamos o sofrimento. Resta-nos refletir sobre as possibilidades de cuidado, preservação e afeto. Interessante, Bong Joon Ho destaca a comunicação como uma possível resistência necessária à existência.