Luto e Melancolia – Uma breve análise do filme O Quarto do Filho

Luto e Melancolia – Uma breve análise do filme O Quarto do Filho 319 223 Lucy Franco

 (Melancolia, Edvard Munch, 1894-95)

Autora do texto: Lucy Mary R. N. Franco 

(colaboradora do Núcleo Elã Psicanálise)

Apresentação

O sentimento de luto pode estar presente em diferentes momentos da vida. Muitos de nós, já experienciaram situações em que o sentimento de perda, vazio e solidão,fizeram deixar de lado,temporariamente, projetos, compromissos, ou pessoas importantes em nossas vidas.

Sendo assim, pretendo abordar o ‘trabalho de luto’, enunciado por Freud (1917), tendo como inspiração a produção cinematográfica O Quarto do Filho[1] de Nanni Moretti, que de maneira sensível conta a história de uma família que perde um filho e vivencia intensamente os processos de elaboração dessa dor profunda.

O título da obra convida a pensar sobre o que nesse quarto poderia representar o filho mencionado, chama atenção para esse cômodo da casa, o espaço íntimo e privado, onde imaginamos uma existência singular e ao mesmo tempo misteriosa. Um quarto, que abarcará a representação da presença e da ausência do filho e do desconhecido sobre ele.

A representação proposta pelo filme ilumina os conceitos apresentados por Freud em Luto e Melancolia (1917), marcando pontos de convergência e diferença entre eles. Desde então, Freud enuncia a impossibilidade de classificar universalmente as diversas expressões do sofrimento psíquico, sendo necessário considerar as inúmeras possibilidades com as quais uma doença pode se manifestar em sua forma clínica.

Assim, torna-se importante diferenciar os estados de luto e melancolia, considerando as questões comuns entre eles, mas também as singularidades que definem como cada sujeito, a partir de seus recursos internos, viverá esse tipo de sofrimento psíquico. No luto o sujeito sabe o que perdeu e caminha para a introjeção de traços desse objeto, na melancolia, não há consciência sobre ‘o que se perdeu com a perda do objeto’, resultante da incorporação do objeto ao Eu.

“A ‘cura’ mágica por incorporação, dispensa do trabalho doloroso da recomposição. Absorver o que vem a faltar sob a forma de alimento, imaginário ou real, no momento em que o psiquismo está enlutado, é recusar o luto e suas consequências, é recusar introduzir em si, a parte de si mesmo depositada no que está perdido, é recuar saber o verdadeiro sentido da perda, aquele que faria com que sabendo, fossemos outro, em síntese, é recusar sua introjeção. A fantasia de incorporação denuncia uma lacuna no psiquismo, uma falta no lugar preciso em que uma introjeção deveria ter ocorrido.” (Abraham e Torok. 1995. P.245)

Podemos dizer que além da dimensão singular de elaboração do luto, também existe a dimensão coletiva, forjada no campo da cultura, onde o luto é ritualizado no espaço-tempo, de acordo com o contexto sociocultural e histórico em que se vive, “… é preciso conceber o luto como uma forma que o homem civilizado tem encontrado para lidar com a questão da finitude, do trauma, da perda e da morte”. [2]

A proposta desse texto é trazer os conceitos de culpa, introjeção, incorporação e identificação de Vilutis, Abraham e Torok articulados ao conteúdo do filme e refletir sobre as depressões no mundo de hoje, a partir de Delouya e Maria Rita Kehl.

O Filme

A construção cinematográfica permite ao espectador realizar identificações, funcionando como espelho. Mas, como toda forma de arte, também alude ao que escapa à representação. Portanto, consideremos que, a despeito das particularidades de cada criação, um filme, assim como uma pintura ou uma obra literária, produz significantes, conservando o vazio, bordejando-o, suscitando ao interlocutor a realização de uma leitura.[3]

Giovanni é um psicanalista que reside e trabalha na cidade de Ancona, na Itália. Ele é casado com Paola e tem dois filhos: a menina Irene (18 anos), jogadora de basquete e o jovem Andrea (16 anos), estudante. Sua vida transcorre tranquila, entre a família e o consultório, até que uma tragédia a transforma completamente.

A situação dramática ocorre num domingo, quando Giovanni está se preparando para sair com Andrea, convencendo-o a acompanhá-lo, quando recebe um telefonema de um paciente que o solicita naquele momento. Giovanni tenta adiar, mas a situação urgente o faz declinar da corrida com o filho, para atender ao chamado. Sendo assim, a família se divide, Andrea mantém seu plano de sair com os amigos para mergulhar, enquanto a irmã vai jogar basquete e a mãe visita uma feira de artesanato.

Giovanni encontra seu paciente deprimido com o diagnóstico de um câncer e a perspectiva de uma morte breve, o que o deixa bastante abalado. No retorno à casa, recebe a notícia aterradora de que o filho sofreu um acidente fatal durante o mergulho. Giovanni vai desesperado ao encontro da filha e os três se encontram em casa para chorar juntos sua enorme perda.

Sobre Andrea

 Alguns dias antes de sua morte, os pais de Andrea são convocados para uma reunião escolar na qual informam o roubo de um fóssil do laboratório e que seu filho pode estar envolvido. Para a mãe, Andrea não é culpado, mas o pai oscila entre acreditar e duvidar da negativa do filho quanto ao roubo. Percebe-se que a partir daí, Giovanni fica preocupado, questiona sua relação com Andrea e passa a prestar maior atenção às suas atitudes. Mesmo depois da situação resolvida e de Andrea inocentado, continua intrigado com o comportamento do jovem, questiona-se sobre seu papel de pai, como se percebesse uma falha ou ausência suas frente ao filho.

Andrea era um garoto tranquilo, um pouco tímido, sensível e de poucas palavras. Relacionava-se de forma afetiva com a família e com os amigos, mas não deixava entrever seus interesses, conflitos, relações e outros segredos que guardava para si.

Com a morte do filho Giovanni entra em contato com as ambiguidades e conflitos na relação entre eles, como os sentimentos de amor e insatisfação frente a alguns traços da personalidade de Andrea, que contrariava seu desejo narcísico frente ao futuro planejado para o filho, conforme suas próprias idealizações e expectativas.

Freud destaca a importância do objeto para a economia libidinal do sujeito não somente como história vivida nos percalços do vínculo com ele, mas também quanto às expectativas criadas em torno do mesmo. É como se – ao perdê-lo, ou perdendo seu amor – perdêssemos também a dimensão de futuro, ficando condenados à certeza de um presente triste e sombrio. (Vilutis, 1997)

 Os Rituais e O luto

 A depender da história de cada sujeito e o tipo de investimento libidinal que estabelece com seu objeto, o luto poderá resvalar para uma depressão ou melancolia, como resultado da incapacidade em concluir o que Freud chamou de ‘trabalho de luto’, que envolve o processo psíquico de desinvestimento libidinal no objeto perdido e a reinserção do sujeito no circuito desejante da vida.

O luto é um trabalho ou processo psíquico. Ele se realiza dentro de um tempo que tem como resultante a identificação por traços com uma modificação no eu – sustentada pelo ideal do eu (Freud, [1923] 1996) – que funciona como balizador do desejo. Esta condição é o que conduz o sujeito a uma reinserção desejante e à reconstrução da capacidade de ação.[4]

Os rituais são essenciais para a instauração do luto e funcionam como um elemento a mais no auxílio à elaboração psíquica do enlutado. No filme, os personagens se deparam com demandas próprias à situação, tais como: fazer ligações para conhecidos, preparar a cerimônia, comprar o caixão, organizar o velório, o enterro e finalmente a dolorosa e derradeira despedida, que inclui um beijo e o último olhar para Andrea.

Já de volta à casa, ouvimos os gritos desesperados e o choro da mãe desfalecida em sua cama. O pai se dirige a um parque de diversões, vagando como que para recuperar uma infância ou um tempo perdidos. Para ele, se impõe um forte sentimento de culpa e negação, que o atormentam profundamente. A irmã se encarrega de acolher os pais destruídos pela perda, sem se deixar entregar à sua própria dor, procura fazer-se presente, como filha (objeto de amor).

Vemos então, a fragmentação do grupo familiar, impossibilitado de compartilhar o momento, e de retomar a vida cotidiana, cada um se fecha em sua própria dor, decorrente do imenso golpe ao narcisismo, sofrido por aqueles que perderam o objeto amado.

O luto profundo, a reação à perda de uma pessoa amada, contêm o mesmo estado de ânimo doloroso, a perda de interesse pelo mundo externo – na medida em que este não faz lembrar o morto –, a perda da capacidade de escolher um novo objeto de amor – em substituição ao pranteado – e o afastamento de toda e qualquer atividade que não tiver relação com a memória do morto. Facilmente compreendemos que essa inibição e esse estreitamento do ego são a expressão de uma dedicação exclusiva ao luto, na qual nada mais resta para outros propósitos e interesses. (Freud. Luto e Melancolia. 2012)

Quando retoma os atendimentos no consultório, talvez cedo demais, Giovanni percebe que perdeu o distanciamento necessário, talvez não tenha se  dado o devido tempo de elaboração, tem consciência de que seu mundo está completamente esvaziado, o que faz com que se sinta alheio aos analisandos,  irritado, disperso, sem escuta e energia para investir em seu trabalho.

Chora diante dos pacientes e faz interpretações atreladas ao seu sofrimento particular. Ainda se sente atormentado pela culpa em relação à morte do filho. Procura encontrar respostas, entender o que houve, ‘por que isso aconteceu? qual seria a explicação para um final assim? quem são os culpados por isso?’A elaboração desse processo demanda um tempo subjetivo, para que gradativamente os investimentos libidinais possam ser recolocados.

Se em todo o processo de luto ocorrem movimentos sucessivos de desligamento e de intensificação da ligação com a memória do objeto, estas oscilações são muito mais dolorosas nos casos em que a culpa participa do sentimento de perda. (Kehl. O Tempo e o Cão. Kindle 2138-2139).

Giovanni decide visitar a loja de equipamentos de mergulho para pesquisar aquele utilizado por Andrea no dia do acidente, procura entender sua capacidade, fragilidade e modo de funcionamento. Acredita que o acidente ocorreu por falha técnica, se recusa a aceitar que Andrea teria abusado e ido sozinho a uma gruta da qual não conseguiu sair em tempo.

Imaginamos o quanto será difícil para esse pai elaborar a perda do filho e do papel que desempenhava junto dele, suas idealizações, preocupações e desejos , aquele algo a mais que se perde para além do objeto em si, e o filme mostra o esforço e a dificuldade em realizar efetivamente esse intenso trabalho psíquico de desinvestimento libidinal.

Em cada uma das recordações e situações de expectativa que mostram a libido ligada ao objeto perdido, a realidade traz à tona o seu veredicto de que o objeto não existe mais e o ego, por assim dizer, indagado se quer compartilhar esse destino, deixa-se determinar pela soma de satisfações narcísicas dadas pelo fato de estar vivo, e desfaz sua ligação com o objeto aniquilado. Podemos imaginar que esse desligamento se dá tão lenta e gradualmente, que ao terminar o trabalho também se dissipou o gasto que ele requeria. (Freud. Luto e Melancolia, 2012)

Irene, a irmã retoma a práticado basquete e termina seu namoro, parece muito triste, abalada e agressiva com seus colegas. Sente-se solitária e sobrecarregada em ter que lidar com a tristeza dos pais, como se não tivesse o direito de manifestar sua dor e ser acolhida por eles.

A mãe cultua o quarto de Andrea como o espaço que ainda contém sua presença, cultua seus objetos, seus móveis, suas roupas, suas músicas, de certo modo num movimento de negação da perda.

Para Paola, o quarto guarda segredos, parece ser o lugar em que ela poderá encontrar, descobrir, desvendar aspectos desconhecidos da vida do filho. Ela vive o luto de maneira reclusa e triste. Insiste em manter Andrea presente, compartilhando intensamente suas memórias com os amigos que encontra.

O enlutado martiriza-se pela perda, recorda-se constantemente do morto. Ele trabalha no sentido de dar um estatuto afirmativo a algo que se perdeu, bem como dotar este fato de um arcabouço simbólico.[5]

Giovani sente-se culpado por ter ido ao encontro de seu paciente no domingo em detrimento de estar com Andrea, acredita que se tivesse recusado a demanda profissional, poderia ter salvo seu filho, pois estaria ao seu lado. Nesse momento, expressa um auto julgamento que o faz sentir que talvez não tenha cuidado ou amado suficientemente Andrea e diz: “Gostaria de voltar no tempo”.

Paola tenta acalmá-lo, mas a relação entre eles fica tensa e agressiva. Ela o acusa de ser ‘extremamente narcisista’ e preocupar-se apenas em aliviar sua própria dor, sem fazer nada por Andrea. Tal acusação refere-se às tentativas solitárias e desesperadas de Giovani de arrancar de si a dor insuportável da perda e ainda rever seu papel e sua posição libidinal frente ao filho, que mais cedo ou mais tarde terá que ser abandonada.

Sequer podemos dizer por que meios econômicos o luto realiza sua tarefa; mas talvez aqui possa ser útil uma conjectura. Em cada uma das recordações e situações de expectativa que mostram a libido ligada ao objeto perdido, a realidade traz à tona o seu veredicto de que o objeto não existe mais e o ego, por assim dizer, indagado se quer compartilhar esse destino, deixa-se determinar pela soma de satisfações narcísicas dadas pelo fato de estar vivo, e desfaz sua ligação com o objeto aniquilado. Podemos imaginar que esse desligamento se dá tão lenta e gradualmente, que ao terminar o trabalho também se dissipou o gasto que ele requeria. (Freud. Luto e Melancolia, 2012)

Embora cada membro da família viva seu luto de maneira particular, todos reconhecem o estatuto simbólico do que foi perdido e que será necessário sustentar o vazio, para gradativamente desinvestir esse objeto de amor, superar o vazio, para introjetar simbolicamente no Eu um traço do objeto perdido, lidar com sua ausência e construir narrativas sobre ela, colocando-a em palavras, desafio que o trabalho de luto exige dos sujeitos para que se constituam novos laços sociais e a vida prossiga.

O trabalho do luto, em princípio, insere o indivíduo na busca permanente do reencontro, e, na medida em que o perdido não pode ser reencontrado, o objeto amado ganha existência como objeto desaparecido e deixa em seu rastro a ânsia desejante, companheira constante do homem. (Peres, Urania. Uma ferida a sangrar-lhe a alma. In Luto e melancolia, 2012)

Vemos o empenho de Giovanni em construir uma narrativa sobre a morte de Andrea que produza algum sentido. Ele ainda não consegue colocar em palavras o significado da sua perda, traduzir seu impacto, expressar o que sente,  dar nome à experiência dolorosa. Essa tentativa de elaboração, aparece nos momentos da corrida na praia, que costumava fazer com o filho, na ida a loja de discos em busca de uma música e na tentativa de ‘escrever uma carta’ (enunciar a morte em palavras) para a ex namorada de Andrea, o que nunca se concretiza.

A questão da introjeção no processo de elaboração do luto, refere-se à possibilidade do sujeito aceitar uma espécie de herança simbólica, um algo a mais do objeto ausente, a ser introjetado no próprio eu, fazendo com que o objeto nunca se perca totalmente. Ou seja, permitir que a dor, seja atravessada pela linguagem, transformando-a em novas narrativas.

Introjetar um desejo, uma dor, uma situação, é fazê-los passar pela linguagem numa comunhão de bocas vazias. (…) Operar essa passagem é conseguir que a presença do objeto de lugar a uma auto apreensão de sua ausência. A linguagem que supre essa ausência, figurando a presença, só pode ser compreendida no seio de uma ‘comunidade de bocas vazias’ (Abraham e Torok.P.246)

A relação entre os pais de Andrea se acirra, em meio aos ataques e acusações mútuas que deixam entrever a raiva frente à forma como cada um vive seu luto. Nesse momento a família encontra-se destroçada, caminham para a separação, sendo que Irene, a filha solitária, continua tentando se constituir como um elo possível entre seus pais.

O luto tem como função, de acordo com Freud, (re)inserir o sujeito no circuito desejante. É um trabalho de ligação e integração daquilo que solapa o sujeito e fica, momentaneamente, sem construção narrativa. Ele aparece como mola propulsora da simbolização e elaboração narrativa da perda, mediante reconstrução da dor psíquica. Em outras palavras, o luto tem por função matar o morto, dando a ele um lugar simbólico subjacente à elaboração, também simbólica, da perda. O luto, como insígnia da elaboração psíquica da perda, constitui um doloroso caminho percorrido a fim de assimilar a transitoriedade da vida e metaforizar seu desejo. Por outro lado, além de proporcionar tal assimilação simbólica, o enlutado se protege de seu próprio desmoronamento mediante um momento passageiro de acirramento da dor psíquica – a lembrança do objeto perdido, o pranteamento, a inibição passageira etc.[6]

 

A caminho do Mar

 Bythisriver[7]

 Aqui estamos à margem deste rio

Você e eu

Por todo o dia como num oceano

Esperando aqui

Sempre sem conseguir lembrar

Porque viemos

Por que será que viemos?

Você fala comigo como se estivesse distante

E eu respondo

Com impressões escolhidas

Em outra época

Em outra época.

Paola encontra uma carta endereçada a Andrea, de uma ex namorada, Arianna, da qual não tinha conhecimento e que parece lhe trazer esperanças de se aproximar de histórias desconhecidas sobre o filho. Procura falar com a moça, chamá-la para uma visita, para se conhecerem, o que se torna uma obsessão, pois acredita que por meio de Arianna, a presença de Andrea se prolongará.

Finalmente a família recebe Arianna. O encontro mostra-se redentor, algo de Andrea é recuperado ali, por meio das histórias que não conheciam, do sentimento mútuo entre ele e  Arianna e da sua narrativa sobre os interesses e afetos de Andrea.

Ela está acompanhada de um novo namorado, estão viajando de carona e a família se oferece para levá-los a um local mais próximo, assim, vão juntos, empreendendo uma viajem (metáfora  sobre a necessidade de atravessarem juntos um caminho doloroso), que se estende e que avança pouco a pouco em direção à fronteira entre Itália e França, como um limite a ser ultrapassado entre vida e morte. Aqui, a família ingressa uma nova temporalidade, que possibilitará a construção de outra narrativa sobre Andrea, a partir de novas representações subjetivas, da alternância entre presença e ausência do objeto, por parte de cada personagem nessa relação.

O luto demanda tempo; este tem a função de proteger o psiquismo da desorganização causada pela perda. Mas o tempo do luto não se limita ao transcorrer de um determinado prazo: ele implica também a reconstrução de um novo ritmo compatível com novas modalidades de ausência e presença do objeto e de sua representação. A reorganização do campo de representações psíquicas e da circulação pulsional que ele determina implica também a dimensão rítmica da temporalidade, cuja representação mais conhecida em psicanálise é a alternância da ausência e da presença do objeto – o jogo do fort-da observado por Freud em um de seus netos. (Kehl. O Tempo e o Cão. Kindle 2160-2163).

Ao longo da viagem, os três jovens adormecem e Giovanni e Paola parecem se reconciliar em torno da imagem do filho, indicando que a vida prossegue, sem ele, mas com sua memória.

Ao se despedirem de Arianna e o namorado, Irene, Paola e Giovanni seguem apaziguados, caminham pela praia, antes de retomarem a viagem de volta. A caminhada diante do mar imenso, que tragou Andrea, representa a reconciliação e elaboração possíveis, a família emerge para o novo recomeço, onde ser e constroem outras narrativas, ‘o ato de pôr em palavras o vazio oral, original’ (Abraham e Torok, 251), que recuperam a possibilidade de religação libidinal à vida, como sujeitos desejantes.

Uma a uma, as lembranças e expectativas pelas quais a libido se ligava ao objeto são focalizadas e superinvestidas e nelas se realiza o desligamento da libido. Porque essa operação de compromisso, que consiste em executar uma por uma a ordem da realidade, é tão extraordinariamente dolorosa, é algo que não fica facilmente indicado em uma fundamentação econômica. E o notável é que esse doloroso desprazer nos parece natural. Mas de fato, uma vez concluído o trabalho de luto, o ego fica novamente livre e desinibido. (Freud, Luto e Melancolia, 2012)

 Luto e Pandemia

Considero que a vigência do texto freudiano reside no alerta que ele significa quanto à impossibilidade de domesticação da dor constituinte da natureza humana. Perante a proliferação de panacéias miraculosas que ameaçam aquietar e igualar a resposta diante da dor d’alma, continua sendo quase subversivo deter-se para pensar na queixa melancólica que, no dizer de Freud, é queixa e também é “dar queixa” contra aquilo que fere, abandona e esvazia.(Vilutis,1997)

 É importante pensar sobre como a sociedade contemporânea lida com os enlutados e depressivos, vítimas da Covid-19, de maneira hostil, negacionista ou ainda, tratando a morte como destino natural e inevitável.

Atualmente vê-se tanto o luto quanto a depressão como estados patológicos, que levam rapidamente a medicalização, comprometendo o direito do sujeito de viver sua dor, entrar em contato com ela, elaborá-la e superá-la, em seu próprio tempo interno, particular e subjetivo, que o permita retornar à realidade cotidiana de forma desejante, tendo concluído o processo subjetivo de introjeção e desinvestimento libidinal do objeto amado.

Não se deve exigir do enlutado, assim como do depressivo, que se desaloje rapidamente de sua dor. Para Fédida, os adeptos dos tratamentos por antidepressivos “teriam muito a aprender com os tempos próprios a essa doença do tempo que é a depressão”. O encurtamento do tempo de luto pode levar ao que o autor chama de “morte despercebida’. (Kehl. O Tempo e o Cão. Kindle 2164-2166).

Vale relembrar que Freud escreveu seu texto Luto e Melancolia no período da guerra e havia desde então, uma preocupação em articular os conceitos psicanalíticos de modo a compreender os impactos da guerra e trazer a psicanálise para uma colaboração efetiva para aquele momento de muita destruição, vivido pela população na Europa, que podemos associar a Pandemia mundial que vivemos hoje, para pensar sobre as mazelas sociais e possibilidades de porvir, que para Freud, naquela ocasião, apresentava um vislumbre de certo modo otimista como vemos abaixo:

O luto, como sabemos, por mais doloroso que possa ser, chega a um fim espontâneo. Quando renunciou a tudo que foi perdido, então consumiu-se a si próprio, e nossa libido fica mais uma vez livre (enquanto ainda formos jovens e ativos) para substituir os objetos perdidos por novos igualmente, ou ainda mais, preciosos. É de esperar que isso também seja verdade em relação às perdas causadas pela presente guerra. Quando o luto tiver terminado, verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos as riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradoura do que antes”. (Freud. Sobre a transitoriedade, 1915)

Nas sociedades contemporâneas a depressão se confirma como paradigma do sofrimento humano, a vida é recusada pelo sujeito, frente ao sentimento de impotência, desânimo e desprazer que se impõe como experiência de falta e desamparo, o que abre espaço para a via da medicalização da dor.

O projeto pseudocientífico de subtrair o sujeito – sujeito de desejo, de conflito, de dor, de falta – a fim de proporcionar ao cliente uma vida sem perturbações acaba por produzir exatamente o contrário: vidas vazias de sentido, de criatividade e de valor. Vidas em que a exclusão medicamentosa das expressões da dor de viver acaba por inibir, ou tornar supérflua, a riqueza do trabalho psíquico – o único capaz de tornar suportável e conferir algum sentido à dor inevitável diante da finitude, do desamparo, da solidão humana.

(Kehl. O Tempo e o Cão. Kindle 465-468).

As características presentes nos estados depressivos e de luto, tais como sono, falta de apetite, cansaço, dores no corpo, desânimo, desinteresse pelo mundo externo, são inadmissíveis no capitalismo, pois colocam o sujeito no lugar do incapaz, do improdutivo, numa sociedade onde não há lugar para a tristeza, nem tempo para a reflexão e a felicidade permanente e constante tornou-se imperativo para o sucesso.

A tristeza é vista como uma deformidade, um defeito moral, “cuja redução química é confiada ao médico ou ao psi”. Ao patologizar a tristeza, perde-se um importante saber sobre a dor de viver. Aos que sofreram o abalo de uma morte importante, de uma doença, de um acidente grave, a medicalização da tristeza ou do luto rouba ao sujeito o tempo necessário para superar o abalo e construir novas referências, e até mesmo outras normas de vida, mais compatíveis com a perda ou com a eventual incapacitação.

(Kehl. O Tempo e o Cão. Kindle 284-287).

Em 2020, com a pandemia mundial, esse modo de funcionamento saltou aos olhos, e tivemos que encarar a impossibilidade de vivenciar os lutos individuais e coletivos por tudo e todos que perdemos,  nosso medo da morte e o desamparo foram expostos, à céu aberto. Os rituais, tão necessários ao processo subjetivo de elaboração do luto foram abolidos e muitos não conseguiram sequer ver seus mortos pela última vez.

Freud insiste no que denomina “trabalho do luto”. Ele não menciona os rituais através dos quais, ao longo da história, o homem pranteia seus mortos, porém, ao marcar o luto como ato, o luto como trabalho do eu (ego), chama a atenção para as consequências do abandono e do esquecimento desses rituais como processos de simbolização da dor. (Peres. Uma ferida a sangrar-lhe a alma. In Luto e melancolia, 2012)

Além do sofrimento pelas perdas que cresceram (e ainda crescem) vertiginosamente, foi preciso redimensionar o tempo e os modos de fazer, os privilegiados tiveram a chance de praticar o ‘Fique em Casa’, mas sentiram-se impotentes, isolados e desafiados pela nova temporalidade.

Enquanto isso, grande parte da população, os menos favorecidos, continuaram a luta cotidiana, colocando suas vidas e seus corpos em risco, vítimas da desigualdade social e do negacionismo oficial, e foram o alvo certeiro da necropolítica do país, que elevou aos extremos os números de mortos e contaminados.

Além de tudo que se perdeu nesse processo de descaso com a população, a impossibilidade de velar os mortos pela Covid-19 e elaborar coletivamente a dor da perda, foi um golpe vivido como ataque brutal aos direitos humanos mais básicos das pessoas.

E a pergunta que fica é sobre como lidaremos individual e coletivamente com essas perdas e seus desdobramentos, no âmbito de uma sociedade excludente, polarizada que pratica o ódio contra o diverso e sobretudo, quer escolher quem tem o direito de morrer ou de viver.

A pandemia foi vivida como privação em inúmeros aspectos, significou o contato cotidiano com a morte anunciada, evidenciando o desamparo, a vulnerabilidade e a finitude, que faz pensar sobre o que esses sentimentos dizem dos sujeitos. De que modo é possível lidar com o negacionismo e a naturalização da morte como destino inevitável, que apenas reforçam o abandono, o individualismo e a ausência de pertencimento que vemos agora com lente de aumento.

Uma sociedade onde o genocídio sistemático, autorizado e naturalizado, continua vitimizando tantas vidas. Quais vidas importam? Quais mortes serão reconhecidas? Como cada um poderá se responsabilizar por si e pelo outro com quem compartilha o mesmo espaço e tempo históricos.

 Para Finalizar

Eis uma das lições que nos dá a psicanálise: enquanto seres de fala, somos frutos de uma perda. Trauma de nascimento, desmame, complexo de intrusão, Édipo, castração etc. são indicadores que nos fazem manejar teoricamente nossa caminhada pela vida, regida e determinada pelas vicissitudes de nosso encontro com o Outro. (Peres, Urania. Uma ferida a sangrar-lhe a alma. In Luto e melancolia, 2012)

No filme O quarto do Filho, o diretor propõe uma representação sensível sobre a dor da perda e a elaboração subjetiva do luto por uma família. Os personagens mostram que o trabalho de luto, que poderia parecer comum, natural e automático, exige um longo processo de renúncia, uma luta libidinal interna, que necessita de tempo e articulações psíquicas que possam inscrever ou introjetar no eu um traço do objeto, fazendo com que ele nunca seja totalmente perdido.

O trabalho psíquico empreendido pelo enlutado, embora empobreça o ego e torne o sujeito inapetente para quaisquer outros investimentos libidinais, pode ser considerado um trabalho de saúde psíquica. É um trabalho de paulatino desligamento da libido em relação ao objeto de prazer e satisfação narcísica que o ego perdeu, por morte ou abandono.Ter sido arrancado de uma porção de coisas sem sair do lugar: eis uma descrição precisa e pungente do estado psíquico do enlutado. A perda de um ser amado não é apenas perda do objeto, é também a perda do lugar que o sobrevivente ocupava junto ao morto. Lugar de amado, de amigo, de filho, de irmão. (Kehl, Melancolia e Criação. In Luto e Melancolia, 2012)

Percebemos que a elaboração do luto, ultrapassa a relação exclusiva entre sujeito e objeto e que o trabalho psíquico é influenciado pelo contexto sociocultural em que a perda acontece. Trata-se portanto, de reconhecer o que se perdeu mediante a ausência do objeto, consentir e autorizar sua perda, de modo a enfrentar o próprio furo no narcisismo, sem desconsiderar os aspectos socioculturais que dão contorno para a elaboração da experiência dolorosa da perda.

Na melancolia, o narcisismo se articula à identificação primária, por meio do investimento libidinal, como incorporação e adesão do eu ao objeto, tornando-os indiscerníveis para o sujeito.

Desse modo, a melancolia resulta da incapacidade de resolução do trabalho de luto , seu processo envolve ataques violentos e recriminações proferidas pelo melancólico contra si mesmo, mas que estão referidas ao objeto incorporado, pois ao misturar as duas instâncias, o sujeito se sente identificado com o objeto que o preteriu e abandonou num momento precoce da vida, ou seja,“A sombra do Objeto recai sobre o eu” (Freud, 1917).

O melancólico sofre de uma ferida aberta, um esvaziamento libidinal, existe um vazio, um buraco, uma perda não simbolizados, não existe fronteira entre ele e o objeto, ele sequer sabe descrever o que perdeu e vive sua dor de modo intenso, doloroso e violento. Trata-se portanto, de legitimar sua dor e ao mesmo tempo trabalhar a possibilidade de separação entre o Eu e o Objeto.

O narcisismo primário, pode aprisionar o sujeito num lugar idealizado em que os sentimentos de completude, onipotência, perfeição e inteireza, não permitam entrar em contato com o desamparo estrutural, numa vida em que tristeza e morte são apenas duas de suas dimensões.

Por isso, paradoxalmente, quando reconhecemos o abalo da ‘crença narcísica’[8], nos permitimos continuar desejando e investindo nos sonhos que podemos realizar, sendo que eles só existirão, como resposta ao que falta. Afinal, a ideia da finitude é angustiante, mas o contrário também seria, como tão bem representou José Saramago em seu livro Intermitências da Morte[9].

A perda de pessoas amadas, atualiza a angústia original do desamparo e aniquilamento, da finitude, da falta, da transitoriedade, da impotência e do quanto somos simples passageiros de uma viagem com final marcado.

O enlutado terá que viver sua dor, de acordo com sua história, em seu tempo particular, subjetivo. Sendo assim, quanto menos possibilidades de ritualizar individual e coletivamente a morte, o desejo do sujeito em relação à vida, não poderá ser facilmente resgatado.

De outra via, é o tempo da pressa contemporânea que acirra os modos de satisfação não mediados pelo desejo. Hoje, a negação do tempo da espera e da ação se acirra numa cultura em que a norma é agir no sentido de uma performance muitas vezes inalcançável por ser imediata em sua própria exigência. Esta norma da ação, no mundo contemporâneo, exige do sujeito uma eficácia individual imediata que confira o status de sua posição socioeconômica. Tal exigência de performance configura o que Ehrenberg (1998) considera como uma mudança na forma de subjetivação no cenário atual. O autor afirma que o mais significativo nessa conjuntura é a substituição de questões ligadas à interdição, à identificação simbólica e à falta por questões que envolvem a perda de objeto e a identidade narcísica (imaginária).[10]

Para concluir, trago aqui a música Pedaço de Mim, de Chico Buarque, que assim como o filme, representa de forma sensível, intensa e dramática o sofrimento de alguém que perdeu o objeto amado. Alguns significantes na canção produzem novos sentidos, são sentimentos que atravessados pela linguagem, deixam entrever as intensidades vividas em momentos de elaboração da perda.

 

Pedaço de mim

 

Oh, pedaço de mim

Oh, metade afastada de mim

Leva o teu olhar

Que a saudade é o pior tormento

É pior do que o esquecimento

É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim

Oh, metade exilada de mim

Leva os teus sinais

Que a saudade dói como um barco

Que aos poucos descreve um arco

E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim

Oh, metade arrancada de mim

Leva o vulto teu

 

 

Que a saudade é o revés de um parto

A saudade é arrumar o quarto

Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim

Oh, metade amputada de mim

Leva o que há de ti

Que a saudade dói latejada

É assim como uma fisgada

No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim

Oh, metade adorada de mim

Lava os olhos meus

Que a saudade é o pior castigo

E eu não quero levar comigo

A mortalha do amor

Adeus

São Paulo, novembro de 2020

 

Referências Bibliográficas

Abraham, N &Torok, M. Luto ou Melancolia : Introjetar – Incorporar  IN : Abraham , n. &Torok. M . A casca e o núcleo. São Paulo. Ed Escuta 1995.

Delouya, D.  O eixo narcísico das depressões In: Depressão.  São Paulo. Ed Casa do Psicólogo, 2003. Cap 2.

Freud- S. Luto e melancolia. 1917. Tradução de Marilene Carone . São Paulo Ed Cosac Naify, 2012.

Freud, S. Sobre a transitoriedade. 1915.http://www.freudonline.com.br/livros/volume-14/vol-xiv-12-sobre-a-transitoriedade-1916-1915/

Kehl, M. R  –  O tempo e o cão : a atualidade das depressões. São Paulo. Boitempo Editorial, 2009.

Vilutis, Isabel D. Mainetti de – Culpa e Identificação na clínica da melancolia In: Freud um ciclo de leituras. São Paulo. Ed Escuta, 1997.

Artigos

Maesso, Márcia Cristina. O tempo do luto e o discurso do outro. Revista Ágora (Rio de Janeiro) v. XX n. 2 mai/ago, 2017/p. 337-355.

Pinheiro, Maria Teresa da Silveira, Quintella, Rogerio Robbe e Verztman, Julio Sergio. Distinção teórico-clínica  entre depressão, luto e melancolia. P.149. Revista Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.147 – 168, 2010.

[1]O Quarto do Filho. Ita/Fra. 2001/1h 39min / Drama/ Direção: Nanni Moretti/ Elenco: Nanni Moretti, Laura Morante, Jasmine Trinca/

[2]Maria Teresa da Silveira Pinheiro, Rogério Robbe Quintella, Julio Sergio Verztman. Distinção teórico-clínica entre depressão, luto e melancolia. Revista Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.147 – 168, 2010.. P.159.

[3]Márcia Cristina Maesso. O tempo do luto e o discurso do outro. Revista Ágora (Rio de Janeiro) v. XX n. 2 mai/ago 2017 337-355.

[4]Pinheiro, Maria Teresa da Silveira, Quintella, Rogerio Robbe e Verztman, Julio Sergio. Distinção teórico-clínica entre depressão, luto e melancolia. P.149. Revista Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.163, 2010.

[5]Maria Teresa da Silveira Pinheiro, Rogerio Robbe Quintella, Julio Sergio Verztman. Distinção teórico-clínica entre depressão, luto e melancolia. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.147 – 163, 2010.

[6]Maria Teresa da Silveira Pinheiro, Rogerio Robbe Quintella, Julio Sergio Verztman. Distinção teórico-clínica entre depressão, luto e melancolia. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.159, 2010.

[7] Música de Brian Eno que Giovani ouve na loja de discos e que gostaria de oferecer à Andrea.

[8] A noção de crença narcísica é aqui postulada para descrever determinadas formas de o sujeito situar-se perante a perda. Ela revela um tipo de organização narcísica que toma como referência o sentido de onipotência do eu conflagrado pelo investimento do outro parental na constituição do sujeito. (Pinheiro, p. 153).

[9] De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico logo se revela um grave problema. Idosos e doentes agonizam em seus leitos sem poder “passar desta para melhor”. Os empresários do serviço funerário se vêem “brutalmente desprovidos da sua matéria-prima”. Hospitais e asilos geriátricos enfrentam uma superlotação crônica, que não para de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise. O primeiro-ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque “sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja”.

Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o cotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Então, o que vai ser da nação já habituada ao caos da vida eterna?

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Maria Teresa da Silveira Pinheiro, Rogerio Robbe Quintella, Julio Sergio Verztman. Distinção teórico-clínica entre depressão, luto e melancolia. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol.22, n.2, p.164, 2010)