O Ofício da Palavra

O Ofício da Palavra 625 595 Angela Biazi Freire

Sempre que pensamos ou nos referimos a uma cultura, a língua é uma das primeiras marcas de estilo e de identificação que reconhecemos.

O conjunto de elementos que compõe a língua é organizado por regras que destinam sua universalização.

No cotidiano de uma sociedade a língua, por meio dos seus sons – PALAVRAS -, que articulados expressam ideias, vai se transformando e ganhando sentidos distintos aos padronizados. Daí a diferenciação entre a língua formal e a coloquial. Podemos citar vários exemplos que expressam essa alteração: as gírias, os sotaques, as expressões de duplo sentido, as nomeações de época.

Encontramos facilmente estas referências da cultura na literatura. Um exemplo máximo foi Guimarães Rosa que, ao se entranhar na região fronteiriça entre Minas Gerais e Bahia, nos apresentou um “dialeto” único, pouco conhecido pela língua formal e que retrata, profundamente, os personagens e suas vidas.

Outro exemplo importante é a proposição de José Saramago que, ao desrespeitar as regras linguísticas, possibilitou um mergulho, de fôlego único, nos seus enredamentos das múltiplas facetas do humano.

Podemos, ainda, destacar outra variação do uso da língua, característica da vida cotidiana atual. Hoje, as palavras vêm sendo utilizadas de modo abreviado e com grande economia, buscando alcançar leitores apressados. As redes sociais exigem agilidade ao se comunicar e, muitas vezes, o uso da imagem, como os “emojis”, é melhor aceito e substituem as palavras.  As mensagens falsas, que ficam mais atraentes se referidas em outra língua – fake news -, também passam a povoar o cotidiano dos falantes e dos leitores, sem preocupação com sua veracidade.

Compõe, como dito anteriormente, um conjunto de códigos que expressa ideias, valores, verdades, disfarces e modos de um tempo.

A psicanálise considera que aquele que fala, incorpora todos esses elementos da cultura, acrescentando o tempero da sua história singular e da forma como ela foi vivida/sentida. Por isso, coloca seu ofício em função da palavra. Busca libertá-la, dissecá-la, cuida de cada desvio, de cada letra, como um artesão que parte do produto bruto para refiná-lo. A psicanálise propõe um processo de busca da “palavra plena”, aquela que revela a verdade para o próprio sujeito que fala.